sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Jean Giraud, desenhista e roteirista


Jean Giraud

Biografia

Jean Giraud nasce em 8 de maio de 1938, em Nogent-sur-Marne, França. Seus pais se divorciam quando ele tem então três anos e é educado em parte por seus avós. É, contudo, graças ao seu pai que ele faz uma descoberta importante para si, entre quinze e dezesseis anos: a literatura de ficção-científica, que conhece entre as páginas da revista "Fiction".

Após dois anos em Artes Aplicadas, ele transforma a história em quadrinhos em profissão. Estreia dentro da revista “Far West” e colabora com jornais católicos como "Coeurs Vaillants". Em 1955, parte para o México, juntando-se novamente à sua mãe, que vive ali, onde ela se casara outra vez. Lá, descobre ao mesmo tempo a maconha, a boêmia e as experiências da idade adulta.

Mais que um título, Jean Giraud considera o México como o seu local predileto, até se pode dizer que de certo modo Mœbius nasce no México. O retorno à França o faz livre. Ele parte com o Exército, passa dezesseis meses na Alemanha e o restante na Argélia, onde é primeiramente apoio e depois destinado à vigilância de um depósito de material. Ele não luta mais; passa todo o seu tempo livre desenhando.

De volta ao continente europeu, faz contato com Joseph Gillain, dito Jijé, um dos pilares do semanário belga "Spirou". Giraud torna-se seu discípulo e colabora com uma das criações do mestre, o western "Jerry Spring", para o episódio intitulado "La Route de Coronado".

Na França, o semanário "Pilote", fundado notadamente por René Goscinny, desejava ter uma série western. Sob a assinatura de Gir, inicia a colaboração com Jean-Michel Charlier. Ele produ "Fort Navajo", convocação da origem das aventuras de Mike Steve Blueberry, que prosseguem ainda hoje.

Surgida no número 210 de "Pilote", de 31 de outubro de 1963, a série encontra um êxito sempre maior a cada novo episódio. A série “Blueberry” é composta de 28 álbuns periodicamente reeditados. Através dessa série, que constitui a verdadeira aprendizagem de Giraud, o desenhista se livra pouco a pouco da influência de Jijé.

Sob sua impulsão, o cenário evolui igualmente desde ingredientes estilísticos vindos do cinema, de John Ford a Sergio Leone passando por Sam Pekinpah. “Blueberry” adquire assim um tom moderno e uma densidade dramática que ultrapassa os modelos da história em quadrinhos franco-belga para a juventude.

Na opinião dos leitores, os melhores episódios são os dois postigos de "La mine de l'Allemand perdu" e "Le spectre aux balles d'or" e o ciclo "Chihuahua Pearl" "L'homme qui valait 500.000 $", "Ballade pour un cercueil", "Le hors-la-loi" e "Angel Face".

A assinatura Giraud ou Gir representa o desenhista de inspiração clássica ou neoclássica. Todavia, outra vertente criada se desenvolve dentro dele, para a qual assina Mœbius. Primeiramente para abordar uma veia satírica, próximo da linha da revista norte-americana "Mad". A estreia do trabalho de Mœbius é para a mensal, animal e maliciosa "Hara Kiri", onde ele desenha curtas histórias de humor negro. Porém, logo a dualidade Gir/Mœbius vai tomar uma total amplitude em outro lugar.

Em 1965, uma nova viagem ao México ocorre por uma decepção: Giraud se confronta com a solidão e a angústia. Ele experimenta pela primeira vez os cogumelos alucinógenos. Quando reaparece, se consagra bastante devido à sua produção para "Pilote", mas aborda igualmente a ficção-científica para a obliquidade da ilustração ou do cartaz. Colabora regularmente com as edições "Opta", para o "Club du Livre d'Anticipation" ou as revistas "Fiction" e "Galaxie".

Enfim, entre 1973 e 1974, assina para "Pilote" quaisquer histórias com tom novo e livre que anuncia a revolução Mœbius, em particular o desvio que marca as gerações de desenhistas. Porém, há então um fenômeno mais amplo que o seduz: o nascimento na França da história em quadrinhos do autor, ou pode-se dizer, da HQ "adulta", da qual Mœbius será uma das mais importantes referências através da revista "Métal Hurlant".

Uma divergência ocorrida com seu editor francês, Dargaud, a propósito de “Blueberry”, conduz à interrupção provisória da série durante quatro anos, de 1975 a 1979. A criação da revista "L'Echo des Savanes", em 1972, e o movimento da HQ "adulta" na França, derivado do "underground" norte-americano e do desejo de se libertar da censura ou dos limites impostos para a imprensa jovem, permitem a Mœbius florescer.

Em 1974, ele publica com as éditions du Fromage (emanação de "L'Echo des Savanes") "Le Bandard fou". No mesmo ano, Etienne Robial publica o primeiro álbum de história em quadrinhos que mencionou sobre a capa o nome do autor (e não o de um personagem): Gir, em "Futuropolis".

O ano de 1975 é uma nova data histórica: ocorre a reunião de Mœbius, Druillet, Dionnet e Farkas para a criação de "Métal Hurlant" e de sua editora Les Humanoïdes Associés. A assinatura Moebius encontra totalmente seu sentido e procria, com um grande êxito experimental e uma nova força de expressão, as criações regularmente citadas, que estão entre as obras-prima incontestáveis dos quadrinhos: "Arzach" em 1976, "Cauchemar blanc" em 1977 (para "L'Echo des Savanes"), "Les yeux du chat",  com Alexandro Jodorowsky, em 1978 e "Major Fatal" ou "Le Garage hermétique" em 1979. Cada qual uma feição sua, essas obras revolucionam a compreensão das histórias em quadrinhos e impelem os limites criativos.

Um novo período começa então para Mœbius. Seu encontro com Alexandro Jodorowsky, sob o projeto inacabado do filme "Dune", de uma parte o conduz à criação de "L'Incal", de outra parte o lança firmemente para múltiplas colaborações cinematográficas: "Alien" de Ridley Scott, o desenho animado "Les Maîtres du Temps" de René Laloux  e "Tron" de Steven Lisberger, que integra as sequências animadas como trivial.

Paralelamente, Mœbius experimenta uma entrega em causa existencial radical: se apaixona pelas doutrinas espiritualistas, reúne-se brevemente com o grupo "Isozen" dirigido por Appel-Guéry. Ele abandona tabaco, álcool ou qualquer outra substância produzida nos paraísos artificiais para tornar-se vegetariano.

Estabelece-se durante vários anos em Béarn, próximo de Pau, depois se evapora para o Taiti quando o grupo se implanta ali. Sua estada é de breve duração. Atraído pelo cinema, ele se instala em Los Angeles e mantém distância do "Isozen". "L'Incal" torna-se um sucesso, é o equivalente em fama para Mœbius quanto de "Blueberry" para Gir! Divide então a sua existência entre Los Angeles e Paris.

Em 1984, cria com Jean Annestay e Gérard Bouysse uma editora em Paris, Ædena, que se consagra com tiragens limitadas das imagens de Mœbius, coletâneas de suas ilustrações, destarte um novo ciclo em quadrinhos: "Le Monde d'Ædena ", que é reeditado pela Casterman no início dos anos 2000.

Em Los Angeles, ele cria, com sua esposa Claudine, Jean-Marc e Randy Lofficier, uma empresa que o representa, Starwatcher Graphic, e que permite a tradução de seu obra completa em luxuosas "graphic novels" pela Marvel, coroando assim sua dimensão de artista internacional.

Submetido voluntariamente aos costumes locais, Mœbius desenha, em 1988, dois episódios de um super-herói lendário: o "Surfer d'Argent", com o roteiro de seu criador Stan Lee. Um de seus projetos mais importantes consiste em prosseguir seu personagem fetiche, o Major Grubert, e em estender "Le Garage hermétique" às dimensões de um ciclo com diversas facetas.

Os anos de 1988 e 1989 inauguram um novo período para Giraud/Mœbius. Ele põe um termo à sua "aventura americana", retorna à França e inflecte o curso de sua vida, tanto no que concerne à sua vida privada, quanto às suas atividades profissionais.

No terreno editorial, não fica inativo. A assinatura de Mœbius vai doravante aparecer muito regularmente nos catálogos das Éditions Casterman, através de múltiplas criações. O desenvolvimento do universo criado à época das edições Ædena, primeiramente com o ciclo "Le monde d'Ædena" (4 álbuns publicados). Em paralelo, sempre no registro onírico e instintivo que caracteriza seu tratamento da ficção-científica, Mœbius publica, para o mesmo editor, diversas coletâneas de imagens (a última se intitula "Fusions") reunindo uma boa parte de sua produção "extra HQ": rascunhos, estudos, aquarelas, ilustrações, etc.

Enfim, Casterman acolhe igualmente outro aspecto de sua inspiração: assaz admirador da obra de Winsor Mac Cay, Mœbius propõe uma nova adaptação em dois volumes do célebre "Little Nemo" ("Le bon roi" e "Le mauvais roi"), desenhados por Bruno Marchand.

Com seu velho cúmplice Alexandro Jodorowsky, ele inaugura algures, para Les Humanoïdes Associés, uma nova série, "Le coeur couronné": três álbuns foram publicados ("La Folle du Sacré-Coeur", "Le Piège de l'irrationnel" e “Le Fou de la Sorbonne”).

Durante esse período, sempre seduzido pelo audiovisual e a animação, Giraud/Mœbius entra em contato com o meio do cinema na França e nos Estados Unidos, porém, entre alguns dos grandes projetos que inicia, estavam "Le garage hermétique", com o desenhista japonês Otomo, e "Starwatcher", longa metragem integralmente em imagens de síntese, de cujas cinco minutos foram realizados, nos quais finalmente se viu a luz.

Enfim, na divisão, as atividades não se integram dentro de um ciclo pré-existente, Mœbius assina alguns livros atípicos como "Les Histoires de Monsieur Mouche" (com Jean-Luc Coudray, para as edições Hélyode), cria uma pequena estrutura editorial, Stardom (serigrafias, objetos, etc.), com sua ex-esposa Claudine e, devido se fundar um fã-clube, publica a "Mœbius Groove", revista produzida por causa da atualidade de sua produção.

Mas, se Mœbius se revela prolífico, Jean Giraud não desaparece do cenário para sempre. Contudo, enquanto roteirista, ele prossegue para a Casterman o personagem "Jim Cutlass", criado originalmente por Jean-Michel Charlier e desenhado por Christian Rossi. Sete álbuns são publicados, o título do quarto, "Tonnerre au Sud" se permite mesmo uma piscadela amigável a Blueberry.

O mesmo Blueberry, além disso, retoma rapidamente o serviço. A princípio, "Marshal Blueberry", desenhado por William Vance sob roteiros de Giraud (dois álbums lançados) e em seguida "Arizona Love", títulos inicialmente publicados pela Alpen e reeditados depois pela Dargaud, que, daqui por diante, publica todas os lançamentos da série, notadamente "Blueberry" e o terceiro volume de “Marshal Blueberry”, "Frontière sanglante", de Giraud e Michel Rouge.

É o retorno de Blueberry que Giraud festeja na virada do século? Alguém custa a acreditar, tanta gente o viu então multiplicar os trabalhos.

"Mister Blueberry", "Ombres sur Tombstone", "Géronimo, l’Apache”, “O.K. Corral” e “Dust” se sucedem a um ritmo suportável, mas, ao mesmo tempo Jean Giraud se revela no meio de numerosos outros domínios.

Com Luc Besson, colabora com a decoração de "Cinquième Élèment". Prossegue sua série "Le Coeur couronné" - com Jodorowsky - depois, inspirado por Paulo Coelho, concebe um duplo CD-Rom de jogos intitulado "Pilgrim". Enfim, a empresa Sony o escolhe para a cenografia de uma atração permanente que abre eminentemente suas portas em San Francisco. Isso é tudo? Não, Giraud encontra ainda tempo para publicar "Quatre-vingt-huit", uma coleção de pinturas abstratas (Casterman).

Entre essas condições, alguém entende e quis experimentar de lhe prestar homenagem, isso doravante foi feito com duas exposições capitais. A primeira, em Paris, no Espace Cartier, permite, em setembro de 1999, de descobrir seus cadernos de croquis, desvendados pela primeira vez ao público.

Enquanto que a segunda, de janeiro a setembro de 2000, transtornou o museu da história em quadrinhos de Angoulême, que lhe dedicou mais de 1000 m2 para recordar o conjunto de sua carreira. Uma bela maneira de entrar no terceiro milênio!

N. C.: Jean Giraud falece em 10 de março de 2012, em Paris, França.


Bibliografia

1995  Altor - Les Seigneurs force
1990  Altor - Le Secret d'Aurélys
1986  Altor - Le Cristal majeur
1998  Altor - Sur l'Ile de la licorne
1992  Altor - Les Immortels de ShinKara
1999  Altor - Les Voies du temps
1995  Monographies, livres d’études - Il était une fois Blueberry
2007  XIII – La Version irlandaise
1975  La Jeunesse de Blueberry - La Jeunesse de Blueberry
1978  La Jeunesse de Blueberry - Un Yankee nommé Blueberry
1979  La Jeunesse de Blueberry - Cavalier bleu
1991  Marshal Blueberry - Sur ordre de Washington
1993  Marshal Blueberry - Mission Sherman
2001  Marshal Blueberry - Frontière sanglante
1965  Blueberry - Fort Navajo
1966  Blueberry - Tonnerre à l'Ouest
1967  Blueberry - L' Aigle solitaire
1968  Blueberry - Le Cavalier perdu
1969  Blueberry - La Piste des Navajos
1969  Blueberry - L' Homme à l'étoile d'argent
1970  Blueberry - Le Cheval de fer
1970  Blueberry - L' Homme aux poings d'acier
1971  Blueberry - La Piste des Sioux
1971  Blueberry - Le Général Tête jaune
1972  Blueberry - La Mine de l'Allemand perdu
1972  Blueberry - Le Spectre aux balles d'or
1973  Blueberry - Chihuahua Pearl
1973  Blueberry - L'Homme qui valait 500.000$
1974  Blueberry - Ballade pour un cercueil
1974  Blueberry - Le Hors-la-loi
1975  Blueberry - Angel Face
1980  Blueberry - Nez Cassé
1980  Blueberry – La Longue marche
1982  Blueberry – La Tribu fantôme
1983 • Blueberry – La Dernière carte
1986 • Blueberry – Le Bout de la piste
1990  Blueberry - Arizona Love
1995  Blueberry - Mister Blueberry
1997  Blueberry - Ombres sur Tombstone
1999  Blueberry - Geronimo l'Apache
2003  Blueberry - OK Corral
2003  Blueebrry – Les Monts de la Superstition
2005  Blueberry – Dust
2007  Blueberry - Apaches
2012  Blueberry l’Intégrale tome 1
2013  Blueberry l’Intégrale tome 2
2015  Blueberry l’Intégrale tome 3
2015  Blueberry l’Intégrale tome 4
2015 • Blueberry tome 24 Mister Blueberry N&B
2015 • Blueberry tome 25 Ombres sur Tombstone N&B

2016 • Blueberry tome 26 Géronimo L’Apache N&B
2016 • Blueberry tome 27 OK Corral N&B
2016 • Blueberry l’Intégrale tome 5
2017 • Blueberry tome 28 Dust N&B
2017 • Blueberry l’Intégrale tome 6
2017 • Blueberry l’Intégrale tome 7
2018 • Blueberry l’Intégrale tome 8
2019 - Blueberry l’Intégrale tome 9

N. C.: Álbuns publicados por Dargaud Éditeur.

Fonte da imagem e dos textos: Dargaud Éditeur, Paris, França.

Afrânio Braga

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